Antes de mais nada é preciso deixar claro que não estou particularmente interessado em desrespeitar os membros de uma profissão, afinal acredito que os cirurgiões dentistas pós-graduados sejam apenas os peões dos interesses financeiros de toda uma indústria médica que atua por trás das atividades deles e faz questão de disseminar uma ciência perigosamente ultrapassada que busca doutrinar as mentes impressionáveis de jovens estudantes no país inteiro com conceitos estreitos sobre saúde humana. Essa indústria é responsável pela venda de materiais e conhecimentos que os dentistas compram e utilizam, e também por protocolar (comandar / regular) as práticas dos dentistas como no caso do Conselho Federal de Odontologia (CFO) e dos Conselhos Regionais (CROs). Estou falando dos líderes das instituições financeiras que patrocinam as atividades dos dentistas e são responsáveis pelas pesquisas "científicas" que dão origem aos tratamentos e materiais que eles adotam. Esses líderes são ricos o suficiente para influenciarem o governo e a educação acadêmica no país e atuarem como lobistas contra inovações tecnológicas e de pensamento (ideias) que buscam reduzir o impacto dos tratamentos convencionais nos pacientes.
Estou mais interessado em condenar a indústria médica e odontológica como um todo e faço isso explorando um vão de conhecimento presente na ciência que os dentistas se orgulham tanto, seja por causa do dinheiro ou porque realmente amam a profissão. Não estou necessariamente a julgar a seriedade e a honestidade dos profissionais que praticam tal ciência através do comércio de tratamentos. Tenho certeza que a maioria deles não conspira para extrair dinheiro da população ou deseja punir clientes questionadores / não cooperativos como eu. Na verdade, quem exerce a influência mais forte são os donos da indústria médica que atuam em diversos setores comerciais criando um corpo de controle de massa da saúde da população. Para eles não é interessante que o público consumidor seja nem muito doente nem muito saudável, e sim que viva em um estado de zumbificação; isto é, de incessantes idas e retornos a hospitais e consultórios, e de consumo de medicamentos no caso da indústria farmacêutica. Parece que o caso que estou a explorar é ainda maior que mera frieza capitalista, pois tudo indica que mais que o dinheiro das pessoas, os líderes precisam controlar as próprias através da saúde delas para que fiquem presas em um ciclo de dependência de seus serviços. As pessoas então se tornam vacas leiteiras: consumidoras compulsivas de serviços médicos e odontológicos convencionais que alimentam essa indústria.
Também é preciso deixar claro que o que está acontecendo atualmente na questão do tratamento clínico da cárie parece ser uma divisão de conceito na opinião dos odontologistas: existem aqueles que são mais conservadores e aqueles que são menos e portanto mais flexíveis. A visão comum parte do pressuposto que só o dentista é capaz de parar a cárie após um ponto entre a fase inicial e intermediária da doença, um ponto que gira em torno do aparecimento da primeira cavidade no dente. Nesse caso acredita-se que a obturação dentária impede o avanço inevitável da cárie que ocorreria na ausência de intervenção médica. A visão mais moderna é a da odontologia minimamente invasiva, que enfatiza a máxima preservação da estrutura dentária, mas que ainda sim deposita um alto valor na restauração como medida de boa saúde além da estética. Mesmo os dentistas mais abertos relutam em admitir que a restauração traz repercussões biológicas e financeiras indesejáveis, já que o dente pode se enfraquecer e entrar em um ciclo de tratamentos adicionais / relacionados custeados pelo paciente que reduzem significativamente a sobrevida do mesmo.
Eu acho fascinante a grande variedade de técnicas, materiais e equipamentos que os dentistas usam e que demonstram a grande versatilidade contida na prática desta profissão. Mas, ao contrário da maioria da população, eu também sei que nada do que eles fazem atualmente soluciona a raiz do problema da doença crônica infecciosa mais comum no mundo: a cárie. A cárie permanece uma doença altamente prevalente na população e sem uma explicação definitiva (única) de causa mesmo que os dentistas continuem a achar que não mereçam nenhuma parcela de culpa nisso. Coloco a seguinte questão ao leitor: o dentista hoje pode solucionar uma infecção cariosa com cavidade no dente? A resposta é sim para aqueles com uma mentalidade mais conformista, mas para aqueles como eu com uma disposição radical / extremista para erradicar doenças degenerativas com medidas naturais ( e se possível até regenerar o tecido perdido ), a resposta é não.
Como irei explicar mais a fundo na Parte 2, o dentista ao fazer a restauração / selamento de lesões de cárie meramente substitui uma invasão infecciosa por outra não-infecciosa advinda das próprias mãos dele, que no caso não seria mais a invasão bacteriana e sim uma que consiste no trauma adicional proporcionado pela cirurgia de remoção e escavação para se livrar dos indícios de contaminação ( afinal as técnicas de preparo cavitário mais convencionais inevitavelmente ocasionam em perda desnecessária de tecido dentário ) e no posterior preenchimento com materiais artificiais. Também faz-se o uso de condicionamento (desgaste) ácido dos dentes. Pode-se dizer que o dentista está a reparar os estragos causados pela cárie, e a tratar (prevenir) contra a agravação de estragos no futuro, mas continua sendo incapaz de solucionar a natureza persistente e virulenta dessa doença enquanto não houver mudança não só no comportamento / estilo de vida de seu paciente como também na sua própria filosofia de tratamento que também causa estragos.
Os dentistas também precisam apostar no potencial de cura do organismo humano para absorver os choques causados pela sua bateria de técnicas mais agressivas. As substâncias do corpo humano são de certa forma inteligentes, porque estão vivas. Os biólogos sabem que o corpo faz de tudo para se curar pelo princípio da autopoiese (auto-geração) dos organismos vivos, mas o ser humano não deixa muito espaço (oportunidade) para isso. Aonde se passa a faca para separar tecido morto irrecuperável de tecido pouco saudável mas recuperável? Essa é uma questão difícil até para o próprio dentista, pois não é algo dependente apenas da precisão dos instrumentos e da habilidade manual dele, mas também da experiência do profissional e da lucidez das teorias e critérios científicos estabelecidos dos quais ele deriva seus conhecimentos. Na verdade essa questão nasce de um problema básico presente em qualquer ciência: o próprio ato de se medir pode interferir negativamente com o resultado da experiência. No que toca ao preparo de cavidades pelos dentistas, isso significa que para se assegurar de que uma contaminação tenha sido removida ( e assim medir o grau de eficácia da higienização ), a perda de tecido dentário saudável é inevitável.
Mesmo assim, a ideia que os amantes e estudantes da Odontologia passam é que a ciência deles já é vitoriosa sobre a cárie somente com menção às medidas preventivas (profiláticas) da mesma, e que todo mundo pode desfilar com dentes perfeitos se seguirem tais medidas religiosamente e frequentarem a cadeira do dentista. Em outras palavras, eles costumam sempre culpar a falta de educação da população sobre saúde bucal e colocam todos os seus ovos nessa mesma cesta chamada profilaxia, um termo que sozinho resume bem a ética de uma profissão médica tão respeitada como a deles. Mas, e se eles também forem vítimas do corporativismo (i.e., interesse financeiro), sendo forçados a defender em demasia medidas preventivas inócuas e até mesmo nocivas sob um ponto de vista de saúde, técnicas que são exageradamente invasivas e/ou imprecisas, ou que simplesmente ignoram a raiz do problema?
A verdade é que, apesar de tudo o que os dentistas fazem para combater (prevenir) a cárie, ainda existe um rombo sujo, mal-cheiroso e sanguinolento presente no dente gigante que ilustra a odontologia aplicada, um rombo que os dentistas tentam esconder a todo custo da opinião pública: Ora, eles ainda não conseguiram curar a cárie como doença propriamente dita; eles apenas tornaram-se eficazes em suprimir temporariamente os efeitos (sintomas) da doença através de técnicas que também agregam riscos a saúde -- tudo em nome da causa profilática. Ou seja, ao suprimir a doença eles também suprimem a saúde. Estatisticamente falando, os dentistas parecem ( apenas parecem ) serem capazes de combater e até mesmo de conter a cárie por algum tempo, mas no fim a doença sempre prevalece considerando que os estragos na dentição só tendem a aumentar na medida que as pessoas envelhecem e mais intervenções se tornam necessárias.
O que será então que causa a cárie? É óbvio que a causa mais evidente sempre foi e sempre será a comida por mais que os dentistas insistam em fatorar a questão em múltiplas variáveis. Se por um lado tem a inegável teoria da Bioquímica de que a comida nutre o corpo pelo processo digestivo, por outro não se pode negar que a comida também é o fator principal que intoxica (polui) o corpo por dentro, causando infecções e comprometendo a imunidade dele. Isso acontece principalmente pelo fato de que algumas comidas se fixam com mais facilidade nas paredes do sistema digestivo e portanto são mais difíceis de serem eliminadas por hábitos de higienização e movimentos peristálticos do corpo, tendendo a apodrecer e liberar gases e toxinas que destroem tecidos e penetram na corrente sanguínea. A longo prazo esse processo de auto-envenenamento diário acaba por cobrar o preço de uma vida humana. Quanto mais processadas pelo segmento industrial as comida são, mais agressivas ao organismo ( e mais nutricionalmente pobres ) elas se tornam.
O preço que se paga ao ignorar a raiz do problema da cárie é a de uma redução (perda) gradual e geral da saúde bucal, contribuindo com o processo de envelhecimento. Os dentistas estão a interferir com o ecossistema bucal num petecamento de idas e voltas do foco do problema se considerarmos as relações sistêmicas, afinal a cárie É um problema sistêmico. Como eles precisam zelar pela eficácia de sua profissão, eles insistem na abordagem de remediar eternamente os estragos da cárie, uma abordagem que já poderia ter sido vitoriosa se ela própria não fosse carregada de efeitos colaterais. É por esse e outros motivos que os contras das práticas biomédicas podem estar a superar os prós. O resultado da intervenção dos biomédicos não só na saúde oral como também na do corpo todo poderia estar a remover / destruir mais tecido vivo do que a limpar / preservar. Quem entende sobre saúde deveria também entender sobre cura. Uma definição plena de tratamento curativo tem como objetivo sempre aumentar e aprimorar a saúde, sempre adicionando a ela de alguma forma. Sob esse ponto de vista, qualquer tipo de subtração torna-se inaceitável. Mesmo o minimamente traumático pode ser muito traumático para aquele paciente consciente de seu corpo e que está psicologicamente cansado de sofrer perdas na vida.
O que acontece é que eles não sabem quando parar com o processo voltado a profilaxia e assepsia. Existe limite também para isso na escolha de soluções e tratamentos. Falta temperança nos diagnósticos da cárie. Defendem exageradamente extrações, obturações, desbastes e selamentos sem muito respeito pelos tecidos originais da boca. Eu sei que parece meio aterrador, mas a delicadeza e a complexidade das estruturas enervadas do corpo humano ainda é maior que a capacidade técnico-científica da humanidade. Como os próprios dentistas costumam dizer, qualquer pedaço de tecido vivo vale muito mais e é muito mais resistente do que qualquer substancia sintética ou artificial. Só que eu digo mais: qualquer tecido que ainda esteja vivo contém por definição algum potencial de cura latente desde que os hábitos alimentares do paciente mudem radicalmente.
A questão dos tratamentos restauradores preventivos serem beneficiais a saúde, incluindo aqueles de implantodontia e endodontia, precisa ser colocada em cheque. A questão na íntegra é: e se nos dias de hoje o exato oposto disso for verdade, talvez por causa que a espécie humana esteja evoluindo a ponto de se tornar imune em relação a cárie? Apesar de eu concordar que o acompanhamento odontológico seja importante para a população, e que não há muito o que discutir em casos de cárie generalizada, a odontologia preventiva pode estar impedindo a recuperação espontânea que o ser humano já é capaz através da cura por vias mais naturais e menos intervencionalmente agressivas. A obturação, por exemplo, pode estar a prolongar a doença apesar da aparência de estar parando ela no tempo. Afinal, ninguém sabe ao certo se a humanidade está evoluindo ou involuindo, e se os dentistas estão vencendo ou perdendo contra a cárie. Certamente não dá para ganhar de uma doença degenerativa com uma atitude passiva (i.e., a chamada abordagem paliativa). Seja por ganância ou obstinação, para muitos dentistas é interessante que a moeda sobre esse assunto nunca venha a cair em cara ou coroa, mas sim que permaneça em eterna rotação.
De qualquer forma, eu não nego que os dentistas possuem uma parcela de conhecimentos e recursos valiosos a oferecer para o bem-estar da população. A Odontologia precisa continuar no caminho da invasibilidade mínima e da visão integrada e holística. Ela precisa respeitar os tecidos originais, a integridade física do corpo do paciente, além da liberdade dele em escolher o melhor tratamento para si. Ela deve se esforçar mais para fornecer opções de acordo com os critérios (necessidades) do paciente, e não restringir as mesmas. Não é o paciente que tem que se dedicar mais à Odontologia, e sim a Odontologia que tem que se dedicar mais ao paciente. Além disso, a nova geração de profissionais precisa se perguntar: qual a chance de que os tratamentos restauradores artificiais estão curando versus a chance de estarem prolongando o sofrimento com medidas inócuas e até mesmo nocivas sob um ponto de vista de saúde? Quer dizer, os próprios dentistas podem estar favorecendo estética e funcionalidade em detrimento da saúde, enquanto pregam o oposto! Essas e outras questões serão abordadas com mais detalhes na Parte 2.
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Referências
- 1. Lewgoy, Hugo Roberto. Estética. "A estética do sorriso: mais do que simplesmente beleza." Revista Odonto Magazine nº 11, Dezembro, 2011. p. 30-31.
- 2. Busato, Adair Luiz Stefanello, e Marisa Maltz. Cariologia: aspectos de dentística restauradora. São Paulo: Artes Médicas, 2014.
- 3. The University of Sidney. "'No-drill' dentistry stops tooth decay, says research [Tratamento odontológico sem perfuração pode parar a cárie dentária, diz pesquisa]," 7 de Dezembro, 2015.
- 4. Nemre Adas Saliba, D.D.S., M.Sc., Ph.D., Suzely Adas Saliba Moimaz, D.D.S., M.Sc., Ph.D., Cléa Adas Saliba Garbin, D.D.S., M.Sc., Ph.D., e Diego Garcia Diniz, D.D.S. "Dentistry in Brazil: Its History and Current Trends [Odontologia no Brasil: Sua História e Tendências Atuais]." Journal of Dental Education 73, no. 2 (2009): 225-231. | "Despite Brazil being a nation with one of the greatest number of dental schools and practicing dentists in the world, we believe that this situation does not appear to have improved the oral health of the majority of the population [Apesar do Brasil ser uma das nações com o maior número de escolas de odontologia e dentistas do mundo, acreditamos que esse fato não parece ter melhorado a saúde bucal da maioria da população]."
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